São Julião a desvendar segredos para o UTSM 2018


São Julião é a freguesia mais serrana do concelho de Portalegre. São Julião diz a história ter sido um mártir católico do séc. IV que foi preso aos 18 anos de idade por ser cristão, durante as perseguições de Diocleciano. Diz-se que resistiu, primeiro, a tormentos e que foi submetido, depois, a um período em que tentaram pervertê-lo por métodos suaves. Durante o período de um ano terá sido conduzido por vilas e aldeias da região da Cilicia, para que os pagãos zombassem dele. Mas nada o demoveu de sua fidelidade a Jesus Cristo. Foi, por fim, lançado ao mar, dentro de um saco de areia com serpentes venenosas e escorpiões. O mar levou o seu corpo até Alexandria onde foi sepultado antes de ser levado para Antioquia (fonte Wikipedia).
Também nós não nos demovemos desta nossa religião cujo Deus maior é a corrida e cujo um dos Santos são os trilhos. Mantivemos a tradição de organizar um Convívio Trail do Magusto na freguesia da castanha e só não contávamos organizá-lo em pleno Verão com a temperatura a subir de novo acima dos 20ºC.
Pelas 9 h reunião geral na sede do PAC 4 do UTSM (que bem poderá em Maio ser o 5 mas isso são novidades que só mais tarde se decidirão) e marcha, que o insuspeito Luís Semedo tinha avisado para avisar que a coisa não era para todos. Mau, pensara eu, se não é para todos, bem calha não é para mim! Ele lá estava na Partida para reforçar a mensagem, ainda um pouco combalido da dureza do Dural Trail da véspera e voltou a avisar: - Aqueçam bem neste 1º quilómetro. Parvo, o "gaiato", voltei a pensar.
Tinha razão. Logo após a passagem da Igreja e a primeira travessia do Xévora a coisa empinou 300 m em apenas 2 Km por um trilho técnico limpo nas semanas prévias pelo João Farinha, pelo João Fernandes e pelo Nuno Paiva que me iam reportando levar por lá dias na preparação do evento e eu a pensar "mas a fazer o quê!?" com tantos caminhos bons que lá há! No que eu me vim meter, cogitava com a minha mochilita de hidratação, ainda por cima engripado que ontem em Lisboa mal conseguira correr 9 Km no bairro do Glorioso. A progressão não foi igualmente fácil para todos, levávamos o jovem Leandro que experimentou uma das principais características desta nossa maneira de estar, a solidariedade e a entreajuda. Levámos o rapaz até ao abastecimento dos 8 Km e bem técnicas foram algumas das alcantiladas passagens pelo Xévora que nos levou a passa-lo definitivamente a montante da famosa cascata do Monte Sete. Curioso? Talvez no dia 19 de maio tenha a oportunidade de saber do que falamos ao Km 60 e tal.
O D+100 m e o D-100 m foi a tónica da altimetria de cada um dos 15 Km deste "convívio" mas a mais gratificante das descidas surgiu ao Km 9 com uma cascalheira absolutamente vertical rumo à Alagoinha. A Almerinda que ia ali pelas minhas bandas só me dizia que no Monte Branco era assim mas ... mais fresco, e de outros lados ia recebendo uns mimos a dizer que estava psicologicamente recuperado para trilhos técnicos e vertiginosos. Não exageremos.
O tempo ia passando e foi já com 2 horas e tal que abordamos a primeira das rampas rumo à Sierra Fria que tão criticadas/elogiadas foram na edição de 2017 do UTSM. O calor apertava e foi penosa com os seus troços de quase 50% de inclinação. Em Espanha tinha sido anunciada Montaria ao javali e tanto já tínhamos fossado que nos amedrontámos. Passagem pela coluna vertebral do dragão - paisagem única - e descida pelo Montinho que já se imaginava o cheirinho a castanha e a cacholeira assada, o motivo principal pelo qual viemos, o Convívio. Meteu de tudo, bailarico com acordeonista, abafadinho, brindes e muito etc. Não faltou o banho no tanque da Igreja que miraculosamente a bica ainda jorra, não faltou o cafezito pago pelo Pepe em Porto de Espada, não faltou a novidade da recoleção de diospiros com o dia já a querer transformar-se em noite.
O nosso grupo de amigos não é nem pretende ser melhor que qualquer outro grupo de amigos que tenha a corrida como vínculo da amizade. Mas em algo somos únicos. As nossas gargalhadas são as mais genuínas e sonoras. Somos uma fonte de água pura. Tão pura quantos estes fantásticos trilhos de São Julião. Quando os percorremos há um misto de dor de serpentes e escorpiões mas ao percorre-los sentimos que chegamos à nossa Alexandria.


















Fotos do João Fernandes.
Fotos da Vitorina.
Fotos do Ismael.


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